ENTREVISTA COM "CARMEN BENINI"

"Carmen Benini" retocando pintura para orientar aluna. 

NOME: CARMEN BENINI
NASCIMENTO: 23/04/1971
CIDADE NATAL: MONTE APRAZÍVEL
CIDADE RESIDÊNCIA: NHANDEARA
ATIVIDADE PROFISSIONAL: ARTISTA PLÁSTICA E PROFESSORA DE DESENHO E PINTURA

A professora Carmen Benini, que gentilmente nos recebeu em seu atelier, cedeu-nos esta entrevista para falar sobre sua concepção referente à "arte". Para ela, uma pessoa que passar por este mundo sem ter experimentado arte, sairá dele como entrou, "cru", ou seja, a arte move a vida. Para ela, música é arte, desenho, pintura, o dom de escrever, falar, enfim, arte não é somente aqueles trabalhos fenomenais, mas o mais simples que pode se manifestar na vida de uma pessoa, onde ela olhe, reflita e se sinta envolvida com aquilo, sendo colocada a pensar e despertar sua sensibilidade. 

Nesta entrevista concedida ao professor Valdinei Fernandes, ela também fala sobre seu trabalho específico, quando, ensinar trouxe mais realização pessoal do que criar. Acompanhem a entrevista a seguir: 

blog:  _Carmen, você, como professora de desenho e pintura, além dos quadros que você mesma produz, deixa bem claro que a arte faz parte marcante de sua vida. Você saberia precisar quando se deu esse "despertar" para arte?

Carmen: _Sim. Foi devido a uma professora de inglês que eu tinha por volta de meus 10 anos de idade. Lembro-me que ela levava umas revistas para a escola, e nessas revistas tinham umas figurinhas femininas, se não me engano chamadas de Júlia. Essa professora, chamada Sirlei, que vive hoje em Nhandeara, colocava essas figurinhas sobre a mesa, espalhava uma série de lápis de cores e deixava os alunos pintarem num determinado momento da aula. Me lembro que isso me encantava. Aquelas figurinhas, seus traços, o desenho dos cabelos, vestidos, sua forma física. E quando pintávamos, lembro-me que ficava admirada como a cor dava vida àquelas figuras. Dessa época em diante nunca mais consegui me separar da pintura e do desenho.

blog:  _Então podemos dizer que uma professora de inglês foi responsável pela arte em sua vida?

Carmen: _Com certeza. Isso mostra a responsabilidade de um professor diante de seus alunos. Muitas vezes o comportamental dele é muito mais influente na vida do aluno do que a disciplina em si que ele leciona. Eu já disse isso para a própria professora Sirlei e sempre que a encontro a agradeço por isso.

blog: _Você estudou arte ou toda essa técnica nasceu naturalmente em você?

Carmen: _Eu comecei a trabalhar com arte (pintar e ensinar), naturalmente, pelo que desenvolvi e despertei interiormente. Mas chega um momento que precisamos crescer, então fiz vários cursos ao longo de minha vida, que hoje somam-se à toda minha capacidade nata.

blog: _Existe algum momento de sua arte, ou algum trabalho, que você considera o mais importante de todos até hoje?

Carmen: _Quando comecei a desenhar e pintar, já amava isso. Me sentia realizada produzindo e expondo meus trabalhos. Mas quando comecei a ensinar, descobri um prazer que me completou: "o prazer de transmitir a arte, partilhar e ver o outro aprender e fazer". Ver o outro fazer me realiza. Não sei se consigo parar de ensinar hoje em dia. Aprendo muito com minhas alunas. Essa troca de aprendizado já é uma necessidade. Com os alunos aprendi a ficar mais leve, encarar a vida diferente.

Carmen (esquerda) com suas alunas
 Magali Batista P. Francisco (direita) e Josefina T. Arruda (centro)

blog: _Na pergunta anterior, você disse "minhas alunas". Você só tem alunas mulheres ou a maioria é mulher?

Carmen: _A grande maioria é mulher. Diria que apenas 2% são homens.

blog: _Por que você acha?

Carmen: _Acredito que o homem tenha mais medo de demonstrar sensibilidade, deve ser um tipo de preconceito. Acho que alguns homens pensam que isso afeta sua sexualidade masculina. Sentem-se acanhado. 

blog: _Você diria que a pintura é uma terapia?

Carmen: _Uma terapia poderosíssima. Não só a pintura. A arte em geral. Qualquer arte: a música, desenho, artesanatos, tudo o que é feito com o tato e com sensibilidade, nos transforma interiormente.

blog: _Podemos dizer que a tecnologia interfere na inspiração artística? Atrapalha a desenvoltura das crianças?

Carmen: _Infelizmente, atrapalha, interfere e totalmente. Antes pensávamos e fazíamos, tínhamos de por a mão na massa. Hoje, pensamos e se quisermos, a máquina faz por nós. Tudo bem que é preciso inteligência para utilizar a tecnologia, mas um pouco de inteligência gera um grande resultado sem muito esforço. Já na arte manual, é preciso um pouco de inteligência, muita inspiração e muita mão na massa. Esse esforço, esse tato, essa sensibilidade que tenho medo de se perder com o tempo. Na minha concepção penso que daqui uns 20 anos será difícil encontrar quem faça trabalho artesanal. 

blog: Falando de crianças, já que representamos uma escola, você acha que o computador afasta as crianças da arte?

Carmen: _Afasta as crianças da arte manual. A arte não vai acabar. Vai se transformando e deixando de ser tanto manual. Hoje as crianças têm muita criatividade, mas é mais virtual, mais visual. Não vai deixar de ser arte, mas vai se perdendo a sensibilidade. Acredito que o computador transmita a arte de uma forma muito fria. A arte virtual, os relacionamentos virtuais, tudo muito interpessoal, estamos perdendo muito.

Alunas em momento de aula

blog: _Qual outra forma de arte, diferente da que você desenvolve, que você admira?

Carmen: _Principalmente a música. Quero aprender violino. Já me matriculei num curso de violão e depois vou para o violino. A boa música nos sensibiliza.

blog: _Deixe uma mensagem para os amigos deste blog!

Carmen: _Qualquer coisa que quiser aprender, é possível! O novo inibe, mas se você viu, admirou, já é para você, você pode!  Assista menos TV, use menos computador e refine seus sentidos: o olfato, o paladar, o tato, principalmente, que se perdem nessa tecnologia.  Quem não experimentou arte, vai sair do mundo do jeito que entrou: "CRU"!

Vejam, a seguir, obras de alunas de Carmen Banini (a maioria ainda em fase de criação):